Violência Verbal em Sala de Aula: Compreender é o Primeiro Passo para Cuidar
- Gleice Mattos
- 17 de abr.
- 2 min de leitura
Nem toda agressividade é sinal de transtorno — mas toda agressividade é um pedido de ajuda.
É difícil passar por isso.
Um aluno que grita, xinga, provoca. Que responde com raiva, desafia a autoridade, interrompe colegas. A violência verbal dentro da sala de aula machuca — tanto quem ouve quanto quem a expressa.
E a pergunta que muitos educadores se fazem é:
“Será que esse comportamento é só indisciplina? Ou pode indicar um transtorno?”
Antes de Diagnosticar, É Preciso Compreender
A escola é um dos poucos espaços onde o aluno revela o que sente — às vezes sem saber dizer com palavras.
A agressividade verbal, embora difícil de lidar, pode ser um sintoma de algo mais profundo:
Dificuldades emocionais
Situações de violência em casa ou no entorno
Traumas não elaborados
Problemas de comunicação
Necessidades não atendidas
Falta de habilidades socioemocionais
E sim, em alguns casos, esses comportamentos também podem estar associados a transtornos do neurodesenvolvimento ou transtornos de conduta. Mas isso nunca deve ser a primeira e única explicação.
Nem toda criança ou adolescente que apresenta violência verbal tem um diagnóstico. E, mais importante: nenhum diagnóstico deve ser usado como rótulo ou justificativa para abandono.
Violência Verbal é Sempre um Pedido
É um pedido de atenção. De cuidado. De escuta.
É a linguagem de quem ainda não aprendeu outras formas de se expressar.
Por isso, o papel do educador (junto com a escola e a família) não é apenas repreender, mas tentar entender:
Quando esse comportamento aparece?
Em quais situações?
Qual a reação dos colegas, da turma, da equipe?
Há algo que o antecede ou o dispara?
Observar com sensibilidade pode revelar padrões e ajudar na construção de estratégias mais assertivas.
E Se For Um Transtorno?
Se houver sinais persistentes, que se repetem em diferentes contextos e interferem no processo de aprendizagem e nas relações sociais, é necessário acionar a rede de apoio:coordenação pedagógica, equipe de orientação, serviços de saúde e assistência social.
O diagnóstico — quando necessário — deve ser feito por profissionais da saúde. E, mais do que um “rótulo”, ele deve abrir caminhos para o acompanhamento adequado, com suporte à família, ao aluno e à escola.
O Papel da Escola: Cuidar Sem Julgar
A escola não é clínica, mas é lugar de cuidado.
É o espaço onde a escuta pode transformar. Onde o acolhimento pode prevenir. Onde a formação socioemocional pode ensinar outras formas de ser e estar no mundo.
Investir em estratégias como:
Roda de conversa
Educação emocional
Mediação de conflitos
Formação para educadores
Fortalecimento do vínculo com a família
Isso faz toda a diferença para prevenir e lidar com situações de violência verbal.
No Fim das Contas, Toda Criança Quer Ser Compreendida
E todo comportamento tem uma razão de ser — até os mais difíceis.
O desafio é enxergar além da fala agressiva, do tom alto, das palavras duras.
Porque por trás de uma fala que fere, quase sempre existe uma dor que ainda não encontrou outro caminho.
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